Relembrando um intervalo na faculdade
Um passo fora da sala de aula, mãos aos bolsos rumo à galeria acolhedora e fazedora de bebidas quentes que esfria mentes e relacionamentos. Jovens com seus olfatos aguçados pelo cheiro da pipoca quente com manteiga são levados como marionetes à Esquina do Café, meu olhar se vira para outro lugar já que a carteira amarela e fofa flutua em minha bolsa sem um real.
Mais uns passos e cinco pessoas me olham, pessoas sorridentes, mas sem faces, felizes exibem suas blusas comportadas presas por cachecóis quentes e volumosos, pessoas sem face sim, são manequins de uma loja sem nome nem atendente, fechada, eles continuam a me olhar.
Uma moça ossuda beberica seu suco de laranja gelado ao passar ao lado de duas encurvadas que se espremem em suas jaquetas e cachecóis tons pastéis para espantar uma onda de vento frio e sem sentimento que vez ou outra gela os ouvidos.
Um casal de namorados se enquenta num abraço carinhoso enquanto quatro rapazotes tentam disfarçar a fria solidão jogando truco.
É engraçado. Manequins exibidos esquentam seus corpos inertes com jaquetas peludas e meias calças pretas ao lado da visão tropicalmente brasileira de sandálias havaianas multicoloridas e chapéus de praia, dispostos de forma a chamar a atenção dos menos validos. Tem promoção!
Mais uma vez o cheiro da pipoca. Ah! A pipoca. Sinto um misto de fome e frio. O relógio enorme e preto de pulso alerta: a vida continua. Mas agora é no laboratório de informática. Aula da Ana Maria.
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