Era apenas
mais um dia, minha primeira semana fora do estágio, havia saído cedo de casa,
era quase 12h e eu estava no Terminal Rodoviário.
De repente o
telefone toca e do outro lado da linha uma voz diz: _Sua irmã sofreu um
acidente de carro, corra para o hospital! Era minha mãe, desesperada.
Eu, sempre
muito equilibrada tentei acalmá-la, mas no fundo estava com as pernas trêmulas
e as mãos sendo levadas freneticamente ao rosto.
O caminho até
a Santa Casa de Misericórdia a bordo de um ônibus pareceu-me interminável. Os
degraus eram longos mas ao me deparar com a fachada do hospital de sobressalto
entrei e quando percebi já estava falando com a recepcionista.
A espera para
saber as verdadeiras condições de saúde da minha irmã grávida e meu cunhado
envolvidos no acidente pareceu-me longa. Quando me liberaram para fazer
companhia pensei: Agora não saio mais do lado dela. Nisso minha mãe tinha
chegado e assim seguimos, as três pelo hospital mais duas enfermeiras, minha
irmã na maca precisava fazer mais alguns exames.
No caminho de
volta, depois de todos os exames realizados e ouvir o coração do bebê eu já
estava uns 10 quilos mais leve e o meu lado curioso buscava em todos os quartos
e corredores cenas que talvez nunca mais teria a oportunidade de ver. Foi o que
aconteceu. Uma mulher passou ao meu lado com o joelho inchado e muito vermelho
numa cadeira de rodas, uma senhora numa maca parecia desacordada. A porta de um
elevador se abriu e duas enfermeiras saíram com um corpo envolto por lençóis,
olhei para a enfermeira com um ar de indagação e ela confirmou minha suspeita,
ali seguia um defunto.
Muitos
corredores depois chegava ao fim meu "passeio" seguindo uma maca com
uma gestante esperançosa e roliça. De volta a recepção percebi que o número de
pessoas havia aumentado e notei que os semblantes estavam desfigurados de
tristeza. Meu alívio cedeu lugar a apreensão.
Neste ponto
inicia o acontecimento que culminou na mudança de todo o resto do meu dia.
Umas 5 motos
da Polícia Militar faziam a frente do hospital e um policial falava ao celular
desolado. O buchicho crescia e a face de dor me causava aflição, foi quando me
disseram: _Acabou de entrar um policial atropelado por um caminhão sendo
reanimado. Começou a passar tudo pela minha cabeça. Pensei em sua família, na
carreira, na vida que era tão real e frágil naquele momento. Foi quando confirmaram
o óbito, seus pertences foram entregues nas mãos dos familiares...
Sei que essa
cena se repete milhares de vezes diariamente em todo o mundo, mas eu nunca
tinha visto a morte tão de perto, nem sequer consegui chorar. Hoje choro a dor
da família do policial mas agradeço a Deus pela vida da minha família e o bebê
que hoje é a sobrinha mais linda que alguém pode ter.
Uma vida foi
ceifada, outra veio ao mundo, o ciclo se repete e é apenas isso que somos,
leves e passageiros como folhas no outono. No final da história o que vai fazer
a diferença é onde vamos passar a eternidade. Tarde demais para chorar, teremos
como recompensa o fruto de nossas escolhas e ações.
A morte é
corriqueira, a vida mais ainda. Se temos esta pessoa que amamos tão próxima de
nós, tão viva, feliz ou não, cansada ou não, talvez esteja até doente, mas está
viva. Não seria esta a chance de redimir o tempo perdido dando importância de
menos a quem você deve os melhores momentos da sua vida?
Amar nunca foi
vergonha, olhar no fundo dos olhos e dizer tudo que vier a mente até as
palavras cederem lugar às lágrimas, bem pelo contrário é um gesto mais que
dígno, é realmente maravilhoso!
O tempo vai
passar, entrarão amigos e novas pessoas na sua vida, nela sairão também muitas
outras por um motivo ou outro, mas no final das contas, de verdade, existirão
apenas vocês, vocês tem uns aos outros e este é o bem mais precioso que alguém
pode ter nesta vida. Por isso: Viva a família, os bons laços de amizade e que
nada neste mundo separe vocês. Não perca o foco. Família está no coração de
Deus!