Queria viver
com você um tempo que não fosse esse.
Um tempo que
não fosse o hoje.
Onde nossas
dúvidas fossem apenas detalhes.
A gente
tiraria “par ou ímpar” para decidir se iríamos tomar banho de mangueira ou de
chuva. Se a gente iria jogar videogame ou vir o pôr do sol. Aí iríamos rir sem
parar e agradecer a Deus pela beleza da companhia um do outro.
O relógio
serviria apenas de acessório na parede da sala enfeitada de estrelas cadentes.
Queria poder
te ver sair do banho e perguntar se o jeans claro e camiseta branca havia lhe
caído bem. E com certeza eu iria dizer que estava perfeito.
Queria
cozinhar sua comida preferida e ficar observando você comer com gosto. Mesmo
que eu tivesse exagerado no sal ou deixado cair vinagre demais na salada. Você
diria que estava uma delícia e a gente iria rir disso até cansar.
Queria viver
no tempo em que não fosse tolo quem amasse e eu não negaria mostrar-te ao
mundo. Então gritaria a plenos pulmões que é você quem eu amo e o quanto me faz
bem chamá-lo de “meu amor”.
As nossas
tardes seriam de plena cumplicidade e carinho e quando a noite chegasse iria
tomar um chá lendo meu livro enquanto você assistiria seu filme favorito.
Ah, queria
poder dizer que você é o meu herói. Fingiria não alcançar as latas de sopa
na prateleira de cima só pra te ter cinco minutinhos a mais na cozinha. Tenho
certeza que você diria que eu não vivo sem você e eu iria concordar só para te
ver com cara de bobo que não sabe receber elogios.
Eu usaria toda
minha paixão pela língua portuguesa para te ensinar regras gramaticais, e você
me ensinaria matemática. É claro que nenhum iria prestar muita atenção no que o
outro estava ensinando. O importante é que a gente iria rir muito da forma
engraçada do outro ensinar.
A gente se
divertiria sem pensar em nada ruim e não é porque viveríamos de amor que não
teríamos que enfrentar alguns desafios. É que a gente iria gostar tanto um do
outro que vencer juntos viraria rotina. E claro, teríamos uma parede para
pendurar nossas conquistas.
Passaríamos
tardes fotografando um ao outro no jardim, sem noção do tempo e a gente
acabaria por rolar ali mesmo na grama, observando o céu e rindo das nossas
traquinagens. No final da noite a gente iria adormecer contando estrelas e
dando nome a cada uma delas, sem ter medo de nascer verruga nos dedos.
Numa
terça-feira qualquer sentaríamos na varanda para comer brigadeiro de panela,
decidindo quem iria lavar a louça depois ou colocar o lixo para fora. E a vida
iria passando assim, sem pressa.
Nas nossas
orações poderíamos até esquecer alguns nomes mas nunca de agradecer ao criador
pela dádiva do amor familiar.
Nos dias de
hoje porém vivemos de sonhos...
E se a
distância insistir em nos separar vamos mandá-la para conhecer a "Rua
do Porto", quem sabe ela não se apaixona pelo Rio (Piracicaba) e resolva
ficar por lá.
Ah, querido.
Queria viver com você um tempo que não fosse esse.
Um tempo que
não fosse o hoje.
Queria viver,
com você!